Catálogo da Exposição Anotações sobre os pecados 2015

 
PROJETO GERAL DO GRUPO

 Título: ANOTAÇÕES DOS SETE PECADOS

 COLOCAR EM VÁRIOS LOCAIS NA SALA DE EXPOSIÇÃO, A FRASE:

 VOCÊ ESTÁ SENDO  FILMADO

 

 GRUPO ANTROPOANTRO

 ANOTAÇÕES SOBRE PECADOS

 O grupo Antropoantro propõe realizar uma exposição sobre seu projeto, ainda inédito, em que aborda o tema dos pecados. Não se trata, evidentemente, de uma visão religiosa ou teológica, mas de um conjunto de anotações que envolve artes plásticas, literatura, metalinguagem, pós-modernismo e conceitos estendidos dos pecados, vistos, cada um deles por uma das artistas do grupo. São sete os chamados “pecados capitais”, como somos sete as artistas no grupo Antropoantro, assim, cada uma de nós se encarregou de um deles na sua proposta artística. Nossa abordagem considera, na verdade, a atualização destes pecados na vida contemporânea, sem pretender de forma alguma uma abordagem moralizante.

Este trabalho, ainda em processo, vem sendo  discutido nas reuniões semanais do grupo e em reuniões em que contamos com a presença do artista professor doutor da Unicamp, Marco do Valle.

Como tem acontecido nas exposições do grupo Antropoantro, esta apresentará um trabalho coletivo do grupo e trabalhos individuais de cada uma das sete componentes.

Teremos: escultura, pintura, objeto, instalações e vídeo. Esta diversidade qualifica a exposição, que não se pretende homogênea. O valor artístico deste projeto não recai somente, ou especificamente, na materialidade das obras, mas também na sua imaterialidade: na circulação de idéias e no repensar das ofensas/pecados no momento atual em que vivemos.

 

CURADORIA:  MARCO DO VALLE

  Recebi o convite para trabalhar com o Grupo Antropoantro com esta proposta aqui apresentada e o fizemos com muito empenho de todos. Trata-se de um projeto inédito no sentido de não ter sido ainda apresentado ao público. Nesta exposição teremos: escultura, pintura, objeto, instalações e vídeo. Esta diversidade qualifica a exposição que não se pretende homogênea. Nos trabalhos não se encontra, exatamente, uma visão religiosa ou teológica dos conceitos e da história dos pecados como tentação, mas sim um conjunto de anotações que envolvem artes plásticas, literatura, metalinguagem, pós-modernismo e conceitos estendidos destes pecados por cada uma das artistas. A abordagem como uma espécie de atualização destes pecados entendidos na vida contemporânea. Claro que a moral e a estética mudaram, ficando a arte de hoje menos sensível a ética que em outros tempos. Os trabalhos destas artistas não pretendem ser uma divulgação de empenho moral, mas apontam como anotações ou visões deste mundo contemporâneo. Cada uma das artistas mergulha estes temas ou pecados no mundo contemporâneo. Com isto, revelam, ainda que por pouco tempo, por oposição ou indiferença, nossa percepção do que vivemos aqui e agora.

 

Marco do Valle

Curador

17/07/2014.

 

Elisabeth Mendes Schneider

Título: Deus Salve a Luxúria ,2013

Técnica: impressão digital

Tamanho: 2,00cm x 3,00cm

 Material: fotos de um par de sapatos feminino preto, em diferentes posições, dentro de um espaço contido.

 Sapatos função primaria de proteção , exaltação do design e de elegância . Signos e simbolismo de cada cultura que ao longo do tempo será absorvida e assimilada pela sociedade.

A cultura e sociedade tem uma forma peculiar de representar os sapatos que transcende funções utilitárias para expressar status, fetiche, etc.

 O fetiche, aos olhos de Freud, relaciona-se à atribuição de poder a um objeto inanimado. Tal objeto teria a incumbência de simbolizar o corpo.

 O meu olhar se prenderá aos teus sapatos. Amo-os como amo a tí (...). Aspiro o seu perfume, o seu aroma de verbera”.

                                                                                    (Gustave Flaubert)

 Afrodite, a deusa do amor era frequentemente representada apenas com um par de delicadas sandálias nos pés.

Madame Bovary, era descrita por Flaubert como uma mulher de comportamento e sapatos sedutores.


 

Inês Fernandez

Título: Quando o muito é pouco – 2014

Técnica: Instalação

Material: tubos de PVC, conexões e moedas.

Dimensões: 150 cm x 150 cm x 150 cm

 “Para a nossa avareza, o muito é pouco,

para a nossa necessidade, o pouco é muito”

                                                          Sêneca


 

Lalau Mayrink

Título: Elogio å Preguiça ou Homenagem a Macunaíma  2014

Técnica: desenho/bordado

Material: Três redes rústicas, tecido de algodão, linha

Tamanho: 300 cm x 140 cm (cada rede)

 Elogio à Preguiça é o que é: um elogio ao pecado que impede outros pecados de serem cometidos. Uma homenagem a Macunaíma, o herói sem nenhum caráter de Mário de Andrade e sua frase bordão "Ai, que preguiça!".

Na época da produtividade e do elogio ao trabalho massacrante, em que o lazer passa a ser determinado pelo intervalo "merecido" e "ganho" entre períodos de trabalho duro,  lazer governado pelo marketing das férias fabricadas (no Caribe, em Miami, em Disneyworld e assemelhados), um elogio å preguiça pura e simples - ao ócio mal visto e que se tenta banir do mundo contemporâneo - faz-se necessário.

A rede é o símbolo desse ócio que permite a criatividade aflorar. O bordado, trabalho gratuito ou mal pago e pouco considerado, reforça essa ideia de ócio.

 

 

Olivia Niemeyer

Título: Inveja: mais ou menos Mira Schendel – 2014

Técnica: corte em laser sobre aço e acrílico

Material: placa de aço e placa de acrílico

Tamanho: 170 cm x 100 cm cada placa

          Uma placa em aço, com letras recortadas a laser, 1,70 x 1,10m, imitando uma folha de Letraset. Uma placa em acrílico cristal, 1,70 x 1m, também com letras recortadas formando “enxame” e espaços vazios. As letras recortadas serão coladas sobrepostas à placa.

Nesse trabalho, o que me interessou foi, sobretudo, a utilização por Mira, em suas Monotipias, de cartelas de Letraset, um elemento industrial, banal, de fácil aquisição, que desmistifica a técnica, já que está ao alcance de qualquer um. O uso da Letraset foi o ponto de partida para meu trabalho: placas de aço e acrílico imitando essa cartela.




Retomo, invejosamente, o título de um trabalho de Mira, “Mais ou menos frutas” que, por sua vez, apropriou-se de “Mais ou menos paisagens”, título de uma séria pintada por Morandi. A inveja gerando relações de cumplicidade que partem de uma intenção objetiva (a cópia) e que encontram desvios ao longo do processo (as mudanças criativas). Uma relação ambígua ou a angústia da influência.  
 
 

Sílvia Matos

Título: Furor 2014

Técnica: pintura

Material: tinta acrílica sobre tela preta e lona acrílica preta

Tamanho: 400 cm x 300 cm

 A raiva ou ira tem vários graus de intensidade. A menos intensa, de acordo com a Biblia Sagrada, naquele tempo,  era até bem vinda  pois servia para admoestar os fiéis que cometiam pecados. Hoje em dia a raiva, segundo Leandro Karnal, pode até  ser aceitável para permitir que o ser humano seja enérgico na disputa do dia a dia.

 Na pintura Furor   está representado o descontrole, o grau máximo da raiva. Dante Aleghieri na sua obra, coloca  a raiva no 5º Círculo do Inferno onde são castigados os irados e rancorosos.  Lá fica Flégias o demônio que conduz o barco nas águas escuras, lamacentas e borbulhantes do Estige.

 

TINA GONÇALEZ

 Título: VANITAS VANITATUM ET OMNIA VANITAS 2014

Técnica: cinco fotografias plotadas em acrílico

Tamanho: 80 cm x 100 cm

“Vaidade de vaidades, tudo é vaidade” (Eclesiates AT,1:2).

Visto como algo passageiro e frágil na sua condição temporal, a vaidade aponta para a ausência de sentido ou propósito na existência humana, deslocando a consciência de si mesmo para aparência e o hedonismo.

Presente nos mitos, literatura, psicologia e outros aspectos da cultura, a vaidade está presente na sociedade contemporânea como um reflexo que se firma através do olhar do outro para alcançar simultaneamente, a admiração e a inveja.

A autoimagem e o olhar formam o alicerce desse trabalho - sou aquele que se olha e ao mesmo tempo é olhado.

Como um selfie hipérbolico que se estende ao infinito, a modulação dessa autoimagem é construida como parte de um discurso metafórico que não se finda. Tal como o indivíduo que intencionalmente mascara sua personalidade não deixando que o interlocutor vislumbre seu verdadeiro eu, as imagens são construídas com um anteparo que interrompe a visão do todo, fragmentando-a em camadas circulares como pequenos lagos narcísicos.

Ampliando o sentido de autoafirmação, a vaidade é apresentada como parte de uma narrativa imagética que reafirma a importância do “eu” - ego, meī, mihi, mē, mē – frente a um mundo que acolhe e legitima o culto ao personalismo. 

 

Vane Barini

 

Titulo: Gula 2014

Técnica: vídeo

Material: televisão

 

GULA

DESEJO INSACIÁVEL/ VORACIDADE / COBIÇA / AMBIÇÃO / AVIDEZ EXTREMA / EGOÍSMO / FOME / SOFREGUIDÃO / DESEJO ARDENTE / QUE CORRÓI / QUE DESTRÓI / QUE DEVORA.

Vídeo

O trabalho será apresentado em uma televisão, não necessitando de um cômodo escuro para  sua apresentação.





 



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